segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Transportes Públicos – Parte II



Sabem a bolinha vermelha no canto dos filmes que evocam erotismo ou sexualidade? Pois bem, acabo de inventar o gelado roxo para a estupidez. Todo o texto que apresentar elevados níveis de estupidez e cuja leitura possa provocar danos sérios no QI do leitor, vai ser identificado com o gelado roxo. Só para ficarem avisados e depois não virem depois dizer “ ah dói-me a cabeça e agora como a sopa pela testa por causa do que disseste”.


Já tinha referido que os transportes públicos metem nojo? Ainda bem.

A verdade é que acontecem coisas muito estranhas no interior dos autocarros. Algumas têm bastante piada, outras nem por isso. Já reparam que um autocarro é uma autêntica Torre de Babel? Provavelmente não, porque ninguém pensa nisto. No entanto, um autocarro é um espaço onde os elementos da humanidade colidem. Onde o branco, o preto, o vermelho, o amarelo e todas as outras se encontram para dar origem a uma cor nojenta. Lendo bem o que acabo de escrever, isto parece um comentário racista, levando a pensar que cada cor deve permanecer no seu canto, sem nunca haver misturas, não foi a minha intenção, mas por ironia ou por simples acaso, a verdade é que se juntarmos as cores, obtemos uma mistela de aguarelas que não se parece com nada, e a humanidade há anos que comprova isto. E há-de comprovar, infelizmente, por muito mais tempo. Tentem fazer isso com as aguarelas em casa, juntem-nas e depois vejam no que dá. E depois comam a mistela.

Nah...não comam. É melhor não.

Voltando ao tópico. Por vezes estou a entrar no autocarro e simplesmente não há lugares, pelo que as perninhas aqui do trinca-espinhas vão ter de aguentar em pé e por vezes quando a viagem excede o quarto de hora, estas cedem e fico ali no chão a espernear. É desagradável.

Outras vezes, há dois lugares livres. O que parece à partida óptimo, torna-se constrangedor. Imaginem que os únicos dois lugares livres são exactamente iguais. Ambos com a mesma quantidade de pastilha de menta colada às costas. Ambos com a mesma quantidade de pó acumulada no tecido. Ambos com a mesma quantidade de graffitis gloriosamente impressos nas costas. Ambos equivalentemente repulsivos. Só que ao lado de um deles, está um senhor branco. Ao lado do outro, descansa um senhor negro. Qual escolho?

Podia simplesmente escolher um ao acaso e borrifar-me completamente para as questões sociais, quero é sentar-me, seja onde for, e é o que costumo fazer quando não escolho ir pendurado às barras fixas no tecto da viatura ( Louco! Gritam as pessoas....) Mas hoje decido ir sentado como uma pessoa normal. Se me sento ao lado do branco, sou racista ou então gosto de leite. Se me sento ao lado do negro, sou racista inverso (sim eu já explico) ou gosto de chocolate. Uma dicotomia um pouco estranha. E então sou atacado pelas pessoas que gostam de leite e/ou pelas defensoras do chocolate. Sim eles andam aí vestidos de pacotes mimosa, leite meio-gordo.

Racista inverso parece muito estúpido. Dá uma sensação de homossexualidade. O que é bastante gay, parecendo que não.O que eu chamo de racismo inverso é basicamente preferir dar uma atenção especial às pessoas de cor, para mostrar que não se é racista e que estamos solidários. Muita gente faz isso, e é absurdo. Como se o facto de escolher sentar-se ao pé da pessoa de cor compensa os 400 anos de discriminação que sofreram em tempos ( e que se diz continuarem a sofrer, mas isso é outra história, e não me apetece falar disso porque comi dois amendoins à bocado e estou cheio ).

- Sentei-me aqui porque nao quero que pense que sou racista.

- Sim porque o facto de te sentares aqui já me fez ganhar o dia...Idiota. Senta-te mas é ali atrás que cheiras mal.

Se for preciso acontece isto.


À bocado disse que o autocarro era uma torre de Babel. Para aqueles que foram ao Google pesquisar se esse era o outro nome da Torre de Piza, e pesquisar imagens de autocarros e colocá-las ao lado da Torre de Babel, lamento informar mas a semelhança não é física e eu falava metaforicamente.

Quando se entra no autocarro vê-se de tudo. Há sempre o eterno grupo de velhinhas que discutem sabe-se lá o quê, quase que nem as percebo. Há sempre um grupo de putos com 14 anos que saíram da escola e cada um ostenta 3 telemóveis, cada um de sua marca, de sua cor. Não vá o diabo tecê-las e se eles começam a avariar depois é uma carga de trabalhos, de modos que pelo sim pelo não, compram-se três aparelhos. De modo que se cria um ambiente de radiação extremo naquele autocarro. É pessoas a entrar com duas pernas e dois braços, como deve ser, e a sairem com uma perna e dezassete braços. Há sempre um grupo de amigos negros que vestem a camisola de Tupac, 50 cent ( duas figuras que além da cor da pele têm pouco ou nada em comum, e um deles deve ter quatro vezes o QI do outro, ou melhor, tinha, agora tentem adivinhar qual. Isso ). Vestem roupas com sete números acima do seu, de modos que bem apertadinhos e com jeitinho cabiam lá mais 2 indivíduos nas calças. Têm ainda ao pescoço fios que devem pesar o mesmo que eu. Portanto é como se andassem comigo ao pescoço. É uma imagem engraçada. No entanto desconfortável. Só que em vez da minha cara, tem um cifrão - coisa que ainda hoje não entendo, porque nós usamos o euro. Além disso é pouco original, porque toda a gente gosta de dinheiro, escusas de andar com cenas. E para que não gosta de dinheiro, fica aqui o meu número. Aqui onde? Ali. Depois já digo.Logo combinamos qualquer coisa e dão-me o vosso dinheiro todo ok? Ok.

Há sempre uma rapariga com uns seios que me fazem lembrar não melões, não melancias, mas o Mundo.Depois andam sempre com 80% dos seios de fora, que é para o caso da população mundial ser toda míope. Ora eu acho que a população masculina heterrossexual do país agradece. Fica aqui um obrigado desde já, que eu falo por toda a gente. Tem uma t-shirt tigresa e um cinto tigresa. Afinal não é um cinto. É uma saia. Erro comum, peço desculpa de qualquer forma.

Lá atrás há sempre 4 ou 5 indivíduos que claramente gostariam de ter nascido negros. Mas pronto, a genética é lixada. Encapuzados, entretêm-se a imitar o som que na realidade seria oriundo de uma orquestra de baterias, tambores e latas de atum. Chamam-lhes beats. Eu chamo ser parvo.

É possível ainda observar um intelectual, de óculos e o rosto a afundar-se nos pêlos faciais, a ler um livro com um nome estranho começado em “ A “ e acabado em “ Bola”. Depois há sempre um ou dois indianos, uma pessoa de fato e gravata, uma criança de metro e vinte com uma mochila de metro e meio às costas. Uma girafa e dois macacos.

Nah esta última parte não se vê muito. Pelo menos nunca vi nenhuma criança com uma mochila tão grande.

Nem girafas nem macacos, agora que penso no assunto.

Então mas afinal em que banco te sentaste perguntam vocês. Afinal avistei um lugarzinho lá ao fundo. Depois é que percebi porque é que estava livre. Ao lado figurava um senhor com o fato do Chewbacca e comia Estrelitas numa taça de cereais da Rebelde Way. O leite e as estrelitas caíam desamparadas no peito e na pelugem do bicho, visto que este não tinha nenhum orifício para a boca. Achei um pouco estranho mas segui a minha vidinha. Ao fim de uns momentos olho para o lado e vejo que o Chewie olhava para mim fixamente, ainda com pingas de leite e cairem-lhe do bigode. Estava numa posição em que parecia que inicialmente ia arriscar mais uma colherada mas se tinha arrependido porque eu estava ali, e estava à espera de uma explicação. E eu não sabia dar-lhe a explicação. Não tenho nada contra o Star Wars, até é um filme muito bonito. Com raios laser e coisas. Portanto sentei-me. E ele continuava a olhar. Depois é que consigo avistar que o senhor trazia uma espingarda de canos cerrados entre as pernas, apoiada no chão. Mas como ele estava a comer a taça de cereias e não tinha onde pousá-la não me preocupei muito, porque não tinha como pegar na espingarda caso quisesse fazer-me mal ( Estou a tentar lembrar-me de uma forma de fazer bem com uma espingarda e não me ocorre nenhuma além escavar um buraco para plantar uma árvore ). Então continuei sem me preocupar. Continuei a fazer o quê? Nada. Passados largos minutos olho para o lado e o senhor ainda olhava para mim com grande indignação, como quem diz “ Tao mas....sais daqui?”

Fiquei com medo e saí. Olho para trás e ele manda um olhar que me dizia “Acho bem”.

Da próxima vez sento-me ao lado de um dos senhores e não me meto nestas alhadas.

PS: Eu avisei. O gelado roxo é lixado.


2 comentários:

Anónimo disse...

Apesar do gelado Roxo...
"...entretêm-se a imitar o som que na realidade seria oriundo de uma orquestra de baterias, tambores e latas de atum. Chamam-lhes beats. Eu chamo ser parvo." Esta parte foi deveras hilariante, embora eu seja um confesso fan de BeatBox, mas latas de atum? Brutal

Goncalo Seagal Lourenco
Sim, eu gosto do Steven Seagal... mais que nao seja para gozar com ele.

Fábio disse...

Hehehe xD
obg !