terça-feira, 9 de novembro de 2010

Retrato Diário de Uma Sociedade Coiso e Tal: Mariquices de estudante. [Parte 2/2]

Aquilo que acontece, com a tal sobrecarga, é uma ausência de processo cognitivo. A grande maioria das pessoas que acaba um curso hoje em dia tem um pequeno problema – não sabe pensar! Com tantos trabalhos, com tantas coisas para fazer, o aluno tem sempre a tendência de fazer o relatório com base no relatório do ano passado, a monografia tête-à-tête com a wikipédia, o projecto com base em projectos passados. Muitas vezes a tête-à-tête passa a um ipsis verbis. As conclusões são sempre as mesmas. O porquê? O como? Não interessa. O que interessa é entregar. É riscar mais uma coisa da lista de tarefas. É poder abrir uma janela e respirar. E o pior é que muitos destes trabalhos servem exactamente para isto: nada. Uma semana depois da pastilha, do suplemento de saber, já foi tudo esquecido. Às vezes basta um dia.
Que tipo de pessoas é que se estão a formar com este tipo de condições? Pessoas automatizadas, maquinas capazes de um processo rotineiro. Não há sentido de inovação ou de empreendedorismo. As empresas contratam pessoas que não conseguem sair da sua zona de conforto. Muitas vezes nem têm uma zona de conforto! Já para não falar nos nomes pomposos dos cursos que grande parte das vezes não passam do pomposo.

Este problema reflecte-se exactamente no resto da sociedade e ainda mais na própria micro sociedade científica. As investigações científicas em Portugal são “mães” e “filhos” deste problema. Aquilo que se faz é sempre mais do mesmo: testar aquilo que outros já fizeram. É sempre pela certa. Quando se consegue algum tipo de resultado inovador é quase sempre sinal de sorte e apenas uma vez ou outra sinal de arrojo. Desta forma é normal que as publicações em revistas importantes, as descobertas, as patentes, não sejam mais do que uma miragem. E quando não o são, não são valorizadas. Olha-se de lado, comenta-se na esquina, diz-se que se diz., e acaba por ser qualquer outra empresa estrangeira a explorar a ideia – a lucrar com a ideia. Há por ai bons grupos de investigação e eu tenho a sorte de conhecer alguns. Mas então vem outro problema: as bolsas de investigação. Porque quando não é da perna, é do pé! Quem se arrisca a não ter resultados e consequentemente a não ter a renovação da bolsa? Quem paga as contas lá de casa? A inovação? Tal não é a amplitude do problema. Os professores, também eles investigadores, convivem com este ambiente, com esta mentalidade, e acabam por semear essa mesma mentalidade nos alunos.

E ai de alguns supostos iluminados que tentem mudar o rumo das coisas. Os alunos de hoje serão os professores de amanhã. O ciclo está fechado. Ámen.

1 comentário:

Lili disse...

realidade pura e dura, nua e crua.