sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Retrato Diário de Uma Sociedade Coiso e Tal: Mariquices de estudante. [Parte 1/2]

Aquilo que se passa nas faculdades portuguesas é sem tirar nem por: a raiz do que está mal na sociedade portuguesa. O estudante hoje em dia – e aqui falo dos estudantes a sério – tem uma vida de sonho.

Estudantes a sério são os bons e aplicados e todos aqueles que tão nos cursos de ciências naturais, seja o ramo das ciências fundamentais (biologia, química, bioquímica etc) ou ramo aplicado (Engenharia Biológica, a irmã química, etc). Estes últimos, os dos cursos de ciências, mesmo sendo maus estudantes, são obrigados à força a ser “bons”. Os que são bons, são obrigados ao que quer que seja.

Ora o que acontece é o seguinte: o aluno calão, cliente da maior parte dos cursos que as faculdades portuguesas amavelmente concedem, tem um conjunto de objectivos mínimos a cumprir: chular dinheiro das propinas aos pais, chular dinheiro para despesas diárias aos pais, chular dinheiro ao estado que investe na sua formação e ir passando a umas cadeiras todos os anos para no final ter um diploma que, para além de atestar para um curso do qual o aluno calão não sabe nada, – atesta para uma qualificação que não tem emprego!

Até aqui não há problema nenhum. O problema não é o aluno calão, esse financia a faculdade e acaba com as economias dos pais. O problema reside nos outros: os bons alunos e os bons e maus alunos das ciências. E porquê? Porque esses, ao contrário dos outros, se querem de facto passar têm de fazer alguma coisa. E aqui fazer alguma coisa é ALGUMA COISA. Óbvio que os maus vão ser sempre maus. Mas os bons, os bons sofrem com as ideias fantásticas dos coordenadores de curso. Ideias que se prendem ao seguinte conceito: quanto mais o aluno tiver para fazer, isto é, quanto mais trabalhos tiver para entregar, quanto mais matérias tiver para estudar por semestre, mais irá aprender.

Ora esta sobrecarga é das ideias mais fantásticas que pode haver. Obrigar o aluno a ler. A fazer. A trabalhar! Se não faz: chumba ou tem más notas. Não há qualquer tipo de falha. Se o aluno faz o trabalho, se o aluno entrega o trabalho, se o aluno tem nota positiva no trabalho, então o aluno sabe a matéria em que o trabalho se insere. O trabalho do professor está feito. O trabalho do professor é pregar saber ao aluno. Com um pionés. Ainda que doa, é esse o trabalho do professor de hoje em dia. Vai-se a faculdade ou manda-se uns mails de casa, manda-se um suplemento de saber ao aluno e o aluno está pronto a ser embalado e exportado. Óbvio que este é o lado do professor.

O lado do aluno é bem diferente. Aqueles bandidos que ousam manter um eventual hobbie – que já tragam do tempos anteriores à faculdade – ou minimizam o tempo disponível para a realização desse hobbie ou acabam com ele de vez. Aqueles que pensam ter um, nunca o vão conseguir ter. O aluno aplicado português tá proibido de fazer tudo o que seja extracurricular, com pena de ter implicações no seu desempenho como estudante. Actividades extracurriculares que iriam contribuir precisamente para a sua evolução como pessoa e, deste modo, como estudante e futuro trabalhador! O aluno não tem tempo para aprender matérias de interesse próprio fora da área (nem se metam nisso), não tem tempo para estudar matérias de interesse na própria área (estudas mas é aquilo que te mandam estudar), não tem tempo para ler revistas especializadas na área que integra (actualizas-te quando o professor se actualizar), não tem tempo para aprender línguas (isso é para meninos), no fundo, se quer manter uma mente sã, boas notas e ter alguma vida que seja para alem da faculdade só pode fazer uma coisa: comer, dormir, respirar e quem sabe fazer alguma actividade de lazer que não implique o uso do cérebro. Isto tudo para garantir um diploma, conhecimentos e a certeza de que ter emprego – é incerto! E essa actividade de lazer bem pensada! Juízo. Metam-se com guitarras ou séries ou coisas ainda mais loucas como fazer desporto e há uma greve dos professores catedráticos. Vão para a rua com o seu blazer aos quadrados e sempre remendados. O que pedem eles? Impõem a punição para esses criminosos! De volta a forca – gritam.

E qual é o lado que ganha? Óbvio que é o dos professores. A pergunta foi mal feita: qual é o lado que tem razão?

4 comentários:

Anónimo disse...

Erecções.

Fábio disse...

LOOL granda resposta Ortiz.

Aí está, o Tiago "As Farpas" Dias.

Anónimo disse...

Este jogo e um pouco estranho.

Lili disse...

não concordo com algumas coisas q dizes.
algumas coisas não são bem, bem assim. outras serão certamente assim ou piores.